Pelas ruas e avenidas de Juruaia (MG), cidade de pouco mais de 9 mil habitantes no Sul de Minas, é comum ver confecções e fachadas de lojas com o produto que colocou a cidade no mapa do vestuário brasileiro – a lingerie. Mas é em uma rua estreita, fora da área central, onde uma história importante da cidade começou a nascer. Ali, a ex-doméstica Ediléia Oliveira passou a infância costurando roupas de boneca e grandes sonhos. Ela cresceu, se tornou estilista e, hoje, é exemplo de sucesso e empreendedorismo.
A casa com fachada simples contrasta com um imóvel impecável nos fundos, em um lugar feito de sonhos. É no ateliê construído há seis anos que Ediléia Aparecida de Oliveira e Silva, a estilista Ediléia Oliveira, como é conhecida na cidade, cria muitas das coleções de moda íntima que tornaram Juruaia o terceiro polo no setor.
Hoje com 37 anos, Ediléia conta uma história de muito trabalho e dedicação ao mundo da moda. Já são 20 anos desde que começou a se dedicar à arte de criar e costurar lingerie.
A trajetória começou muito antes e o amor pelos desenhos e moldes veio ainda na infância. “Sempre amei desenhar. Meus cadernos da escola eram todos muito coloridos. Gostava de fazer roupas pras minhas bonecas, trancada no meu quarto”.
Primeiros passos
Ediléia começou a costurar sozinha, mas o gosto veio por influência das tias, que costuravam as próprias roupas e ganhavam o dinheiro do sustento com a costura. A necessidade financeira e vontade de ser independente da renda dos pais fez com que ela, ainda aos 15 anos, decidisse trabalhar como doméstica em Guaxupé (MG).
“Tive uma infância difícil. Minha família sempre regulou muito o dinheiro. Eu via meus amigos cheios de lápis de cor, roupas novas e eu queria ter também. Como sempre fui ambiciosa e quis buscar coisas boas pra mim, tive que ir atrás de alternativas para viver e encontrei isso no trabalho como doméstica”.
Foi por insistência do pai, o principal incentivador do dom de Ediléia, que ela decidiu voltar para Juruaia aos 17 anos e trabalhar com corte e costura. E a volta pra casa veio com um incentivo e tanto – o pai deu a ela de presente a primeira máquina de costura.
Assim, decidiu transformar a casa simples da família em seu primeiro ateliê. “Eu colocava a mesa de corte no meio da cozinha. A sala era onde eu atendia as primeiras clientes. Em um dos quartos ficavam minhas máquinas e o meu próprio quarto virou o provador das roupas”.
Com a máquina em mãos, começou a trabalhar para as primeiras lojas de moda íntima de Juruaia. “Meus primeiros passos foram junto com a cidade. Há 20 anos, as primeiras confecções começaram a abrir e eu tive a chance de começar junto. Trabalhei nas áreas de produção, corte e modelagem. Passei por todos os processos”.
A busca por outros caminhos
Aos seus 21 anos, como muitas jovens em idade para o vestibular, Ediléia decidiu que era hora de tentar um curso superior em uma cidade maior. Foi para Franca, no interior de São Paulo, e fez a prova para uma faculdade pública. Sua ideia era entrar no curso de direito. “Era um curso tradicional e eu sentia que era muito importante ter uma profissão. Fui pelo que achava que seria interessante para minha vida”.
A vaga na faculdade não veio e a jovem decidiu fazer um curso pré-vestibular ainda em Franca, onde ficou por dois anos. Entre os estudos, o amor pela moda continuou presente e Ediléia conseguiu emprego em duas confecções.
Os dois anos em outra cidade e a frustração de não conseguir entrar na faculdade pública fez a jovem perceber que voltar para Juruaia era a melhor escolha.
“Quando fui embora, eu achava que minha vida era em outra cidade. Que iria me casar, ter minha família e trabalhar fora de Juruaia. Mas a vida me fez enxergar que não precisava ir para a cidade grande para me destacar. Sempre há campo de trabalho pra todos que correm atrás”.
De volta ao mundo das confecções na pequena cidade do interior, ela conciliou por anos o trabalho nas confecções durante o dia e as encomendas particulares à noite. Os pedidos para a estilista começaram a aumentar a cada dia e Ediléia se descobriu uma empreendedora – era hora de trabalhar com suas próprias clientes e voltar a sonhar com seu ateliê.
Realizações
Juruaia virou o cenário perfeito para continuar a caminhada. A ideia de mudar seus planos de lugar deu espaço a uma realização plena. “Sempre tive minha vida muito bem traçada na minha cabeça. Eu via em revistas uma casa bacana, uma viagem incrível, uma família feliz, e sonhava com tudo aquilo pra mim. Foi em Juruaia que realizei tudo isso.”
Sobre as viagens, atravessou o oceano e conheceu países como Inglaterra, França, Holanda e Bélgica. A primeira delas, a Paris em 2015, foi a trabalho. “Fui com um grupo visitar importantes feiras de moda íntima e buscar referências para minhas criações. Fiquei encantada com aquele mundo e em 2016 quis voltar a passeio com o meu marido e apresentar tudo aquilo pra ele”.
O maior dos sonhos, porém, foi concretizado com o próprio ateliê. “Eu sempre imaginava um lugar amplo, com uma mesa e espelho grandes, onde as pessoas chegassem e se sentissem em um grande guarda-roupa. Aqui, tenho meus tecidos, minhas linhas, desenhos, máquinas e moldes. Tudo levou anos para ficar pronto, mas ficou do jeitinho que eu sempre sonhei”. O lugar recebe todos os dias clientes interessadas em todos os tipos de roupa, além das donas de confecções de lingerie de Juruaia.
As peças íntimas, aliás, viraram o “xodó” da estilista. “A parte mais gostosa de criar uma lingerie é você começar do ‘zero’, brincar com diferentes tecidos e moldes até chegar a uma peça linda. Quando vejo minhas criações nas vitrines das lojas ou catálogos, sinto uma felicidade muito grande. Vejo o quanto consegui me destacar”.
Com anos de cursos curtos em cidades como Campinas (SP) e São Paulo (SP), e agora cursando a faculdade de moda à distância, Ediléia construiu suas próprias referências e já desenhou coleções para as principais lojas de Juruaia. Suas criações levam na costura uma pequena placa com sua assinatura, o que, para ela, traz um valor diferenciado à lingerie e é muito valorizado pelas clientes.
Carinho pela história e conselhos de carreira
Ao olhar pra trás, toda a caminhada faz muito sentido a quem hoje é uma estilista de referência. “Eu me sinto completamente realizada quando vejo minha história porque eu saí ‘do nada’. Aos 24 anos, cheguei a ouvir da minha própria mãe que nada daria certo pra mim, que eu sonhava mais alto que podia. Mas eu sempre tive muito foco em ter um nome, ter um trabalho que me desse dinheiro e realizasse meus sonhos. Meu plano de vida deu muito certo”.
Apesar do caminho não ser fácil, Ediléia avisa que ter objetivos bem traçados é fundamental para quem quer ser estilista.
“É preciso ter muita paixão e gostar muito de pesquisar. Não fiz faculdade, mas eu estudei muito nos tantos cursos que fiz. Leio muito, me dedico diariamente. Penso que a pessoa tem que ter bastante garra e persistência”.
O maior conselho de Ediléia? “Que a pessoa ‘se jogue’, arrisque e dê o seu melhor. Que também tenha os pés no chão e saiba que nem sempre vai ser fácil. Mas que saiba que o sucesso um dia vem e o sabor dele é maravilhoso”.
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Fonte: G1
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